Bem-vindos sejam todos, narnianos ou estrangeiros! este blog e feito para todos que amam nárnia, e acreditam nela, nele haverá varias postagens a respeito de nárnia e seus acontecimentos...façam perguntas tirem suas duvidas .....sejam bem vindos ao mundo nárnia virtual!
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sexta-feira, 23 de março de 2012
uma vez rainha...
O anel estava ali, brilhante e reluzente. Estava do lado de muitos outros, mas naquele dia ela escolhera este em especial. Tinha uma pedra preta, que ela só usava em ocasiões tristes.
E ela pressentia que algo triste aconteceria.
“Senhorita Pevensie?” – um homem fardado, alto e esguio, parou logo atrás dela. Ela se levantou do banquinho de sua penteadeira, mas continuou de costas para o soldado. Se ela olhasse, as lágrimas viriam, e ela não queria borrar a maquiagem.
Como se esse fosse o real motivo.
“Sim?” – ela respondeu, calma e serena – “Queria falar comigo?”.
“É Susana Pevensie? Irmã de Pedro, Edmundo e Lucia Pevensie?”.
“Sim, eu sou”.
“Venha comigo, senhorita Pevensie” – ele a pegou pela mão, vendo, pela primeira vez, o rosto belo da moça – “Temos muito a conversar”.
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Susana olhava para os três corpos à sua frente. Estavam todos tão desfigurados, tão irreconhecíveis… apenas ela para poder dizer que aqueles eram seus irmãos, seus amados irmãos. E somente ela poderia dizer por uma única razão:
Os sorrisos.
Apesar dos rostos estarem destruídos, os sorrisos continuavam ali. Três sorrisos que ela já não via há muito tempo, principalmente do mais alto dos três. O irmão mais velho, Pedro.
Sorrisos que ela vira pela última vez há muitos anos, quando ela própria o esboçara. Aquele sorriso de alegria, felicidade espontânea, que não cabia no peito. Uma alegria de sentir que estava de volta ao lugar que pertencia.
“Deixe de besteiras, Susana” – ela pensou, balançando a cabeça – “Aquilo foi um sonho. E a vida real não pode ser vivida com sonhos”.
“Então, senhorita?” – o mesmo soldado voltava a falar – “Consegue reconhecê-los?”.
“Eu reconheceria meus irmãos de qualquer maneira, senhor” – ela respondeu, fria – “São eles, sim”.
“Está tudo bem, senhorita?”.
“Tudo ótimo” – ela segurou as lágrimas – “Tão bem quanto uma mulher que acaba de perder os irmãos pode estar”.
Ela olhou para o anel preto. Nunca mais as coisas seriam as mesmas.
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“Susana Pevensie, você aceita…”
“Sim, aceito”
Todos os convidados ficaram espantados com a reação e a pressa da noiva. Alguns consideraram um ato de grosseria, outros viram como um ato de amor, Susana Pevensie apressada para ser logo uma mulher casada. O próprio sorriso de Susana dava à maioria aquela sensação. Aquele sorriso branco, terno, considerado por muitos o mais bonito que a sociedade inglesa poderia ver.
Porém, ninguém percebeu que aquele sorriso era falso. Não podiam perceber, afinal ninguém conhecera o verdadeiro sorriso de Susana. Aquele sorriso de mulher nobre, sorriso de rainha. Um sorriso que conquistara muitos reis e príncipes, e que agora até a própria Susana esquecera.
Esquecera não. Que ela tentava esquecer. Que ela se recusava a acreditar que, um dia, existiu. O sorriso gentil que ela queria matar a todo custo, assim como mataram seus irmãos.
Por isso, ninguém via que a pressa de Susana era única e exclusivamente porque ela se sentia mal. Estava no seu casamento, mas por incrível que pareça, estava infeliz. Na pequena capela, apenas convidados e familiares do noivo. Susana não tinha quem convidar. Sequer possuía uma madrinha. Aquele lugar pertencia à Lucy, e Susan se recusou a colocar outra pessoa no lugar de sua irmãzinha.
Será que ela estava vendo? Estava com os outros? Estava bem?
Ela sabia que estava. Sabia, inclusive, onde Lucia, Edmundo e pedro estavam. Mas, se aceitasse isso, teria que aceitar todo o resto. E ela não queria, não podia aceitar.
Dessa vez, não segurou o choro. Agradeceu que, pelo menos, consideraram ser um choro de alegria, por beijar o noivo, que agora era seu marido. Eles não poderiam saber.
Aquele era o momento errado, o lugar errado. O mundo errado.
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Todos os convidados dançavam harmoniosamente, esbanjando alegria e satisfação pela linda festa que Susan e seu marido estavam dando. O noivo fizera questão de fazer a melhor festa que alguém poderia dar naqueles tempos. Tudo para a sua bela e amada noiva, Susana. Porém, ela sentia como se a festa fosse simples demais. Disfarçava, é claro, para todos e para ela mesma. Assumir que a festa estava simples seria assumir que já fora a outras melhores. Festas de reis, rainhas. Festas de um mundo extraordinário. Festas que ela não queria lembrar, mas que viviam se mostrando a ela.
Com muita delicadeza, ela pediu licença para ir ao banheiro. Retocar a maquiagem. O marido concedeu, sabendo o quanto a esposa prezava manter a linda aparência. Nem imaginou que, quando Susana entrou no banheiro, tudo que ela menos pensou foi em se maquiar.
Susana chorou, chorou como jamais havia chorado. Sentia falta dos irmãos, queria eles ao seu lado naquele momento importante, queria receber um abraço aconchegante de Pedro, as palavras de desdém de Edmundo, um sorriso sincero de Lucia. Queria sua família de volta, sua alegria de volta. Seu mundo de volta.
“Como querem que eu acredite em você?” – ela murmurou, olhando para cima – “Primeiro você me tirou de Nárnia. Agora tirou os meus irmãos. COMO QUER QUE EU TENHA FÉ?”.
Susana ficou muito tempo chorando, até que, quando sentiu que já não havia lágrimas, se levantou e se recompôs. Foram muitos anos tentando esquecer, para diminuir a dor e a frustração. Tinha que se cuidar agora. Cuidar da aparência, dela mesma, que foi tudo que restou. Não ia vergar agora.
Mas Susana Pevensie não foi chamada de “Susana, a Gentil” à toa. E alguém tão Gentil não pode ficar tão amargurado assim.
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Susana caminhava no cemitério. Os passos eram lentos, pesados, típicos de alguém com idade avançada. No rosto, muitas rugas e olheiras, mas ainda assim ela mantinha a maquiagem intacta. De todas as formas, ela tentava manter o que sobrou de Susana Pevensie.
Sentou-se no gramado, encarando três placas. Em uma estava escrito “Pedro Pevensie. Homem leal, bravo. Homem magnífico”. Em outra, estava “Edmundo Pevensie. Jovem sensível, amoroso. Homem justo”. Na terceira, estava “Lucia Pevensie. Jovem feliz, esperançosa. Mulher destemida”. Depois de muitos anos que Susana resolveu colocar aquelas homenagens aos seus irmãos. E visitava todo dia o cemitério, visitava aqueles três túmulos mais do que visitava o do próprio marido, recém-falecido.
Sua alma pedia para ficar perto dos irmãos, de alguma forma. E tantos anos longe… ela os queria, de toda forma.
“Uma vez Rei ou Rainha de Nárnia, sempre Rei ou Rainha de Nárnia” – ela murmurou, se deitando sobre a placa de Lucia– “Você sempre acreditou nisso, não? Você jamais esmoreceu”.
Susana olhou em seu dedo. O anel continuava ali, preto e reluzente, e jamais saiu, desde o dia em que ela o colocou. E pensou o quanto aquele anel mostrava o seu estado. Luto eterno. Sofrimento. Dor. Algo que ela buscou sentir por toda a sua vida.
“Por que não podia ser como vocês?” – ela encarou cada uma das placas – “Por que não podia ser forte como Pedro, que agüentou a realidade, e soube esperar? Por que não podia ser como Edmundo, que consegue retificar os próprios erros e seguir em frente? Por que não posso ser como Lucia… sempre piedosa, sempre mantendo a fé?”.
Uma fina garoa começou a cair sobre Susana, enquanto ela chorava copiosamente. Estava no fim da vida, e os fatos continuavam batendo na sua face, dando-lhe tapas seguidos e constantes. Ela não podia fugir. E soube disso desde a primeira vez que vira os irmãos mortos. Eles foram embora sem ela, porque ela não acreditou. E dia após dia, ela sentia isso.
Se ela tivesse acreditado, ela estaria com eles. Estaria em seu mundo. Pedro voltou. Ela poderia ter voltado também. Porém, ela duvidou. Ela sentiu raiva, e preferiu manter Susana Pevensie da sua maneira. Mas maquiagens, roupas e jóias não a mantiveram. Talvez a aparência bela que um dia a destacou como rainha, a única coisa que ela pensou que ainda tinha. Mas a pessoa Susana Pevensie sumira.
“Eu quero voltar para vocês” – ela murmurou, lágrimas se misturando à chuva – “Quero ter minha alegria de volta. Quero meu mundo, meus amigos, meus irmãos. Quero a mim mesma de volta. Quero voltar a ser Susana, a Gentil. A aparência não me basta mais. Quero a minha vida”.
A garoa engrossou, e virou chuva. Susana se levantou e lentamente voltou para casa. Era tarde demais, talvez. Melhor voltar para casa, o trem passaria em poucos minutos. Se ela desse sorte, sentaria em um banco confortável e poderia dormir um pouco.
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Quando Susana acordou, havia um estranho e quente sol tocando o seu rosto. Ela se levantou, e para a sua surpresa, as costas não reclamaram do movimento. Quando abriu os olhos, viu um jardim de jasmins à sua frente.
Um jardim que ela conhecia bem.
“Sabe, Susana” – ela ouviu a voz serena e grossa entrando em seus ouvidos, a mesma voz que ela não ouvia há anos – “A Gentileza de uma mulher não pode ser mantida apenas com cuidados com a pele, ou o enfeite de uma maquiagem. A Gentileza de uma mulher só pode ser mostrada com um sorriso sincero, livre de raiva e dor”.
“Você sempre soube, não foi?” – ela sorriu, sentindo o peito esquentar de novo – “Sempre soube que eu voltaria a mim. Mas por que um castigo tão severo?”.
“Porque eu sempre soube que você agüentaria, Susana” – o leão imponente sorriu, e ajudou-a a se levantar – “Assim como, um dia, voltaria a Nárnia por seus próprios pés. Eu não poderia trazê-la se você não quisesse voltar”.
“Perdão, Aslan” – ela o abraçou, carinhosamente – “Eu sempre fui a mais pessimista dos quatro”.
“Que bom que voltou ao normal” – Aslan entregou uma trompa para Susana – “Vamos, toque-a. Seus irmãos precisam saber que você finalmente veio”.
“Eles não vão me reconhecer”.
“Vão sim. Olhe para você mesma”.
Susana encarou as mãos e viu as mãos de uma mulher jovem. A mesma mão em que, um dia, colocara aquele anel preto. Exatamente a mesma mão. Só que, agora, o anel estava vermelho e reluzente. Como o lindo sol do sul, que a regia nos seus bons tempos.
“Impossível”
“Agora você pode manter a beleza eterna, Susana. Principalmente porque sua alma voltou a ser jovem. Mantenha os dois, sim?”.
Susana sorria tanto que não conseguia esconder a felicidade.
“Onde estou, Aslan? É mesmo Nárnia?”.
“Não, querida, infelizmente essa não é a mesma Nárnia que você governou, embora seja muito parecida”.
“Se não é a mesma Nárnia, como cheguei aqui?”.
“Você sofreu um acidente de trem, como os seus irmãos. Afinal, eu não poderia deixar uma rainha de Nárnia ter um destino diferente”.
Susana pegou a trompa e a encarou com um sorriso. O sorriso de Susana, a Gentil.
“Uma vez Rei ou Rainha de Nárnia, sempre Rei ou Rainha de Nárnia” – ela comentou – “E assim deve ser” – e a trompa foi tocada, chamando a atenção de Pedro, Edmundo e Lucia, que finalmente tinham a irmã de volta.
Fim
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